*Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: AS EXONERAÇÕES, AS EMENDAS E O SONETO…
O ex-presidente Tancredo Neves, que também exerceu o cargo de primeiro-ministro do Brasil, nos tempos do parlamentarismo, foi uma pessoa com uma longa biografia no universo político brasileiro. Quando foi eleito governador de Minas Gerais, no inicio da década de 80, ele adotou uma estratégia para dispensar as pessoas que não queria em seu governo. Sempre que um aliado o sondava, com a intenção de ganhar um cargo, ele fazia a seguinte sugestão: “diga que você foi convidado, mas não aceitou, assim você sai por cima”. Dadas as devidas proporções, a recente história de exonerações em diversos cargos da Prefeitura de Cacoal tem certa semelhança com os fatos, porque os argumentos usados por diversos atores políticos envolvidos na situação tornaram todas as emendas piores do que os sonetos, como diria o poeta português Manuel du Bocage. Aliás, os sonetos desse episódio não possuem sequer as sílabas métricas convincentes…
Um secretário municipal em Cacoal tem salário bruto de R$ 15.800,00. É muito difícil imaginar uma empresa privada em território rondoniense que ofereça aos seus principais executivos um salário desse patamar. Então, é muito estranho que diversas pessoas do escalão superior da administração municipal decidam se reunir e pedir demissão de uma administração cujo titular foi reeleito. Basta as pessoas pegarem o vídeo da sessão de posse dos eleitos e observar os discursos proferidos. A harmonia, pelo menos na ressaca da virada, era total. Mesmo os adversários políticos mais ferrenhos do prefeito de Cacoal reconhecem que os resultados obtidos por ele, em outubro passado, nas urnas obedianas, merecem respeito, ainda que seja um respeito provinciano. E por que este fator é importante? Porque os níveis de aprovação da administração foram resultantes da equipe que estava na Prefeitura de Cacoal no primeiro mandato. Negar este fato é a mesma coisa que negar o fato de que chove muito na Amazônia nesse período. Então, se é assim, por que o prefeito decidiria demitir essas pessoas? E por que essas pessoas pediriam demissão? Nenhuma resposta terá lógica, se não for um clima de tensão política, de choque de egos políticos, de vaidades…
Essa semana, o vice-prefeito de Cacoal concedeu uma entrevista que diz muita coisa, principalmente nas entrelinhas do soneto obediano. Ele declarou que as pessoas exoneradas foram indicadas por ele, antes de ter o cargo de vice, ainda no mandato anterior. Nessas declarações, há alguns fatores que, esses sim, explicam o clima. E explicam muito mais do que o frágil argumento de que “em todas as administrações ocorrem trocas”, como foi dito por algumas pessoas, entre elas o prefeito e o próprio vice. Claro! Todo mundo sabe disso. Mas as circunstâncias são muito diferentes. Um fato que precisa ser registrado é que, nos últimos 20 anos, Cacoal não tinha um vice-prefeito realmente atuante. Mesmo todas as pessoas que fizeram críticas contra Tony Pablo, quando ele foi colocado na chapa, afirmam hoje que ele surpreende positivamente. É uma pessoa com enorme capacidade técnica, sabe dialogar com todos os setores da sociedade, tem muita facilidade para agregar e formar grupos e conhece a realidade da administração. É um perfil completamente diferente daqueles vices apáticos e frágeis que a população viu em outras administrações. Somado a isso, entre os quase 90 mil habitantes de Cacoal, é muito difícil encontrar mais do que 12 pessoas que acreditam nessa história de “trocas naturais”. Muito mais difícil, ainda, é encontrar alguém que abriria mão de um salário de R$ 15.800,00. O leitor abriria mão??? Com o preço que está o café, é evidente que não!!!
No contexto em que aconteceram os fatos, essa tese de “trocas naturais” é muito mais frágil do que alguém dizer que Cacoal será a capital do estado na semana que vem. Um detalhe curioso nessa história é que nenhuma das pessoas exoneradas se manifestou publicamente. Isso é sintomático!! E por que não houve nenhuma manifestação? Porque as trocas não foram tão naturais assim… Se o vice-prefeito fez as indicações na gestão anterior, não há nenhuma lógica na saída dessas pessoas agora. Tony Pablo, o vice-prefeito de Cacoal, sabe que as trocas não foram naturais, o prefeito também sabe, do mesmo jeito que é perceptível o fato de que o vice tem, até este momento, uma excelente atuação. Em poucos dias no cargo, Tony Pablo fez muito mais do que todos os vices da história de Cacoal. E isso não é natural. Isso incomoda muita gente!
Diante deste novo cenário político, a tese que fica muito mais sólida talvez seja a de que qualquer um dos prefeitos que Cacoal teve, nos últimos 20 anos, não estaria preparado para a convivência com o atual vice-prefeito, porque os vices anteriores estão muito distante de ter a capacidade política de Tony Pablo, e muito mais distante de atingir a capacidade técnica do companheiro de chapa que Adailton Ferreira escolheu em 2024. Durante os dias que o prefeito ficou fora, muitas pessoas que assistiram à atuação do vice hoje afirmam, sem sombra de nenhuma dúvida, que o prefeito não fez nenhuma falta. É provável até que ele perceba isso, após a alegada cirurgia da vista que teria feito. Todavia, os versos utilizados por Tancredo Neves, na década de 80, e os versos utilizados agora pelas pessoas que consideram todas as trocas ocorridas como normais não daria um soneto perfeito, porque as emendas ficariam muito piores. O melhor seria mesmo as pessoas caírem na realidade pregada por Ulysses Guimarães, um dos maiores nomes da história política nacional, quando ele dizia que “em política, até raiva é combinada”. As reflexões do Velho Ulysses parecem muito mais cabíveis para a realidade obediana de hoje… Tenho dito!!!
*FRANCISCO XAVIER GOMES – Professor da Rede Estadual e Jornalista